O servidor público efetivo José Carlos Freitas, conhecido popularmente como Carlinhos, foi afastado de suas funções por 60 dias nesta quarta-feira (01/10), após uma série de denúncias envolvendo supostas irregularidades na gestão da prefeita Marina Brito (PP). Com 26 anos de serviço prestado ao município e sem histórico de processos disciplinares em administrações anteriores, José Carlos afirma estar sofrendo perseguição política e assédio moral por não compactuar com práticas ilegais.
Segundo o servidor, a prefeita e os secretários Pedro Leodido Filho (Saúde) e Antônio Delfrísio Ramos Farias (Administração e Fazenda) seriam os responsáveis pelas represálias.
“O que estou enfrentando é perseguição pura, apenas porque denunciei o que está errado. Não aceito colocar em risco a vida de pacientes e a minha própria dignidade como servidor concursado”, desabafou.
Ambulância irregular apreendida pela PRF
Entre as denúncias feitas por José Carlos está a situação precária de uma ambulância utilizada para transportar pacientes de Ilha Grande a Parnaíba. O veículo, segundo ele, apresentava sérias irregularidades: falta de documentação para rodar, ausência de equipamentos obrigatórios como tubo de oxigênio, macaco e chave de roda, além de falhas mecânicas nos freios.
Na última segunda-feira (29/09), após acionamento da reportagem e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o veículo foi vistoriado, teve todas as irregularidades confirmadas e acabou apreendido, sendo rebocado para o pátio da corporação.
Apesar disso, a gestão municipal acusou José Carlos de ter “arquitetado” a apreensão do veículo, numa tentativa de transferir a responsabilidade do secretário de Saúde para o motorista.
Histórico de perseguição
Esta não é a primeira vez que o servidor é alvo de punições. Anteriormente, José Carlos já havia sido afastado em situação semelhante, mas recorreu à Justiça e conseguiu o retorno imediato ao trabalho, além da restituição de suas gratificações e adicional noturno. Na ocasião, a Justiça ainda determinou o pagamento de indenização de R$ 5 mil, processo que segue em julgamento.
Mesmo com a decisão judicial favorável, as perseguições não cessaram. Agora, o servidor afirma que ingressará com uma nova ação contra a prefeita Marina Brito, Pedro Firme e Antônio Delfrísio Ramos Farias por difamação e calúnia. Ele também denuncia supostas tentativas de destruição de sua imagem por meio de blogs que estariam sendo financiados com recursos públicos sem emisão notas fiscais.
Prefeita e secretários na mira da Justiça
A prefeita Marina Brito e parte de sua equipe já enfrentam outros problemas judiciais. Em decisão recente, o Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) condenou a gestora, o vice-prefeito Francisco das Chagas Nascimento de Andrade (PP) e os secretários Aderson Linhares Feitosa e Antônio Delfrísio Ramos Farias ao pagamento de multa de R$ 40.915. A penalidade foi aplicada pelo uso irregular de um imóvel locado pela prefeitura como comitê de campanha nas eleições de 2024.
Além disso, o Ministério Público do Piauí (MPPI) apura possíveis irregularidades na Secretaria Municipal de Educação, envolvendo suspeitas de notas fiscais frias.
Outro ponto que chama atenção é a situação do secretário de Administração e Fazenda, Antônio Delfrísio Ramos Farias, sobrinho da prefeita. Ele é investigado pelo MPPI por suposto enriquecimento ilícito. Documentos apontam que o secretário seria dono de uma empresa declarada com capital de R$ 1 milhão, mas cujo endereço coincide com o funcionamento de outra firma, uma revendedora de veículos chamada RF Veículos. A suspeita é de que a empresa possa estar sendo usada para lavagem de dinheiro público.
Levantamento de veículos oficiais
Nossa reportagem apurou ainda que pelo menos quatro veículos de uso da gestão municipal levantam suspeitas. São eles:
Duas caminhonetes Toro, sendo uma utilizada pela prefeita e outra pela Secretaria de Saúde;
Uma Fiat Strada, que estaria sendo utilizada pelo esposo da prefeita;
Uma Oroch, veículo vinculado à Secretaria de Educação, mas que estaria sob posse particular da secretária, sendo utilizada inclusive em deslocamentos diários até sua residência na região da Pedra do Sal.
Nossa reportagem investiga se os veiculos é de propriedade dos usarios ou alugados, e de qual empresa.
Essas informações reforçam as suspeitas de uso irregular do patrimônio público por membros da administração.
Clima de tensão política
O caso de José Carlos Freitas expõe não apenas o drama pessoal de um servidor concursado, mas também o ambiente político conturbado que marca a gestão de Marina Brito. Para a população de Ilha Grande do Piauí, as denúncias escancaram a fragilidade da administração municipal e o preço pago por servidores que se recusam a compactuar com práticas suspeitas.
Enquanto a Justiça e os órgãos de controle não concluem as investigações, José Carlos segue afastado e promete não se calar.
“Tenho 26 anos de história dentro da prefeitura e nunca tive problema em nenhuma gestão. Só agora, porque denunciei irregularidades, virei alvo de perseguição. Mas vou lutar na Justiça e provar minha inocência”, afirmou.
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