O que era para ser um novo capítulo de esperança na história da segunda maior cidade do Piauí, transformou-se em um verdadeiro terremoto político. Parnaíba, com mais de 200 mil habitantes e uma trajetória marcada por tradição e progresso desde sua emancipação em 14 de agosto de 1844, vive hoje uma crise sem precedentes.
O prefeito Francisco Emanuel Cunha de Brito (PP), eleito em 2024 com 59,09% dos votos, graças ao apoio decisivo do ex-prefeito Mão Santa, enfrenta agora uma sucessão de denúncias, suspeitas de corrupção, contratos milionários e o risco real de cassação.
Sem gastar “um centavo do bolso”, segundo populares, Francisco Emanuel chegou ao poder como um nome desconhecido, mas impulsionado pela força política da família Mão Santa. Poucos meses após assumir, rompeu com o grupo que o elegeu e publicou um “decretão” exonerando todos os aliados da antiga gestão.
A partir daí, o caos tomou conta da administração. Secretários de confiança foram nomeados, mas o que veio depois foram denúncias em série, licitações polêmicas e suspeitas de uso indevido de recursos públicos.
Entre os escândalos, um dos primeiros a chocar a população foi a compra de uma caminhonete Hilux preta, à vista, por R$ 300 mil, em nome de uma empresa que até 2024 pertencia ao próprio prefeito.
Logo depois, vieram os absurdos: uma licitação de quase R$ 2,5 milhões para compra de balas, bombons e doces, que só foi cancelada após pressão da imprensa e da sociedade.
Mas o caso mais grave veio em seguida — a licitação de R$ 6,8 milhões para próteses dentárias e o contrato de R$ 3.070.483,00 com a empresa ALPHA Soluções e Distribuição Ltda, para aquisição de livros “Diálogo Inter Religioso”, da Editora FTD.
A equipe do Portal do Águia esteve no endereço da empresa ALPHA, na Avenida Viena Weyne, nº 760, bairro Cambeba, em Fortaleza (CE) mas não encontrou ninguém no local. Populares informaram que a sala 06 “quase nunca abre” e dificilmente alguém aparece ali para dar expediente.
Diante das irregularidades, o Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI) determinou a suspensão imediata dos pagamentos do contrato. O órgão apontou indícios de sobrepreço, ausência de exclusividade e falta de documentos técnicos e fiscais que comprovassem a regularidade da compra.
Mesmo assim, o prefeito afirmou que “metade do valor já havia sido paga” e que os livros “estariam em uso” pelos alunos da rede municipal porém, fontes internas da prefeitura revelaram ao Portal do Águia que os livros sequer foram distribuídos nas escolas.
A relação entre o Executivo e o Legislativo desabou. Vereadores, tanto da base quanto da oposição, denunciam autoritarismo e falta de diálogo. Nos bastidores, há articulações para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pode levar à cassação do prefeito Francisco Emanuel caso as irregularidades sejam confirmadas.
“Ele não escuta ninguém, governa como se estivesse acima da lei”, disse um vereador sob anonimato.
Como se não bastasse, um novo decreto do prefeito (nº 268/2025) publicado no Diario Oficial em 29 de setembro, acendeu o estopim na Câmara: foram anulados mais de R$ 7,1 milhões do FUNDEB, o principal fundo de financiamento da educação básica, além de reduções de R$ 607 mil na Saúde Municipal afetando diretamente unidades básicas e serviços essenciais.
O decreto causou indignação entre os vereadores e servidores da educação, e promete esquentar o clima na sessão desta segunda-feira (13/10), que deve ser uma das mais tensas da história política de Parnaíba.
Com denúncias tramitando no Ministério Público do Piauí e no TCE-PI, Francisco Emanuel enfrenta o momento mais delicado de sua carreira. O “prefeito revelação” de 2024 pode estar prestes a entrar para a história não como o gestor que modernizou Parnaíba, mas como o primeiro prefeito cassado da cidade.
Enquanto isso, a população assiste, indignada, à pior crise política dos últimos tempos.
Parnaíba, terra de gigantes e de história, agora espera que a justiça e a transparência prevaleçam — antes que o caos vire rotina.
Reportagem: Portal do Águia — Jornalismo que não se cala.
Investigação exclusiva com base em documentos oficiais, despachos do TCE-PI e apurações junto a fontes da Prefeitura e Câmara Municipal de Parnaíba.
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